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Foto do escritorJulio Cézar Fernandes

O alto custo mental das redes sociais.

A sensação que se tem de estar em dívida, em falta, abaixo, aquém do ideal quando estamos nas redes sociais não é fictícia, ela é bastante real. As redes sociais nos suscitam sensações, pensamentos e sentimentos inéditos na nossa história evolutiva, seja por sua intensidade, seja por sua peculiaridade. Para que possamos compreender de que maneira esse mundo virtual nos afeta, comecemos pelo começo.

O nosso funcionamento "interno" naturalmente envolve o pensamento com seus aspectos: avaliativo, comparativo, preventivo, planejador.. que são ferramentas poderosas para nossa sobrevivência enquanto espécie, e que podem ser prejudiciais quando ocorrem de maneira "espontaneamente" intensa e recorrente.

Com a intensificação do nosso contato com as redes sociais, com o crescente gasto de mais e mais horas no mundo virtual, mais estamos sujeitos (mesmo que de modo "indireto") às informações ali expostas, ou seja, agimos de acordo com as informações que nos estão disponíveis.

Ao nos depararmos com o universo das redes sociais abarrotado de publicações predominantemente relacionadas ao sucesso, ao bem-estar, à boa saúde/boa forma, produz-se, com grande frequência, a ilusão de que tudo está indo bem na vida das pessoas que fazem tais publicações, afinal se todos sempre estão sorrindo, contentes, festejando, com amigos, em eventos, comendo bem, é sinal que a vida dessas pessoas é muito melhor do que a minha. É exatamente esse padrão de pensamentos que dá pistas de que o comportamento de auto comparar-se está ocorrendo. Essa classe de comportamentos de nos auto comparar frequentemente é tendenciosa, enviesada e equivocada. Isso ocorre porque ao nos auto compararmos com outras pessoas aparentemente melhores do que nós, desconsideramos outros diversos elementos e informações que seriam necessárias para uma análise mais justa e verdadeira do cenário. O fato de que fragilidades, dificuldades, problemas, angustias, a falha, o feio, os defeitos da pele dificilmente são divulgados nas redes sociais, ao passo que se observa uma pluralidade de filtros para alterar a própria imagem leva a crer que de fato, as redes sociais auxiliam a promover uma visão distorcida da realidade. E se a perspectiva é distorcida, é muito provável portanto que qualquer análise dos "fatos" dessa realidade também o seja.

Assim, assumindo que os algoritmos das redes sociais são projetados para nos levar algumas informações em detrimento de outras, percebe-se que além dos benefícios de se criar uma experiência virtual do usuário aperfeiçoada, personalizada de acordo com seus gostos, preferencias e histórico de busca, o mesmo mundo virtual aliena nossa percepção da realidade permitindo que criemos expectativas sobre nós mesmo que também podem estar distorcidas.



Portanto, levando em consideração o que o recente campo da economia comportamental tem nos colocado de que nós humanos não somos seres tão racionais como pensávamos, grande parte da comparação que fazemos entre "eu mesmo" e o "outro" costuma estar enviesada em alguma medida, ou seja, tais comparações, pensamentos, julgamentos podem estar bastante incorretos e equivocados.

Como já dito, nossos padrões de pensamentos, julgamentos, comparações são elementos naturais do nosso funcionamento, são comportamentos. No entanto, a depender de sua frequência e intensidade, eles podem ser muito danosos e prejudicar nosso bem estar. Um dica simples para poder compreender melhor se essas atividades te prejudicam é a seguinte: observe seus sentimentos, o que você sente em diferentes situações vivenciadas no mundo virtual e nas relações pessoais, estes sentimentos são ótimos guias para compreender quais e como são nossos estados internos e que pensamentos tem sido mais frequentes. Esse é um primeiro passo para começar a entender os efeitos das redes sociais no seu bem estar, e entender se o seu uso dessas redes é prejudicial para sua saúde mental.


Julio Cézar Fernandes de Matos - Psicólogo Clínico Comportamental



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