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Foto do escritorJulio Cézar Fernandes

Como a inflexibilidade/rigidez psicológica prejudica a vida do imigrante?


Muitas pessoas quando se mudam de casa, de cidade, de país, acabam experimentando um desconforto durante o processo de adaptação. Com relação aos imigrantes, é bastante frequente ouvir relatos de pessoas que ao mudar de país não conseguem se adequar às diferenças culturais, ambientais, comportamentais existentes entre seu país de origem e o país destino e passam a repensar novamente o quanto era mais confortável sua pátria amada. Essas dificuldades de adaptação podem gerar repercussões negativas para diferentes aspectos da vida do indivíduo: sua saúde, sua segurança, seu bem-estar, suas perspectivas de futuro. Assim, torna-se importante entender alguns exemplos de como essas diferenças afetam a vida do imigrante; e como a inflexibilidade psicológica afeta negativamente seu processo de adaptação.


Começamos com um exemplo interessante, citado por Margolis (2013), sobre a mudança produzida na relação de casais que emigraram para os Estados Unidos. Muitas mulheres brasileiras que emigraram para lá com os maridos, começaram a trabalhar e ter maior independência financeira. A autora mostra que essa mudança levou muitas delas a questionarem seu papel na relação, de modo a buscar um equilíbrio entre as tarefas domésticas com seus maridos, alguns deles por sua vez se recusaram a fazer tal divisão por tratar tais tarefas como trabalho feminino (fusão cognitiva). Esse apego a tais crenças, além de outros problemas presentes na relação, acabavam sendo parte da causa de diversos conflitos e muitas vezes do término do relacionamento. Aqui se observa como a mudança de contexto produz uma necessidade de variar nossos comportamentos, seja aprendendo novas habilidades, mudando o ponto de vista, de opinião, seja se abrindo para a possibilidade de fazer coisas que imaginamos sermos incapazes de realizar.


Um outro exemplo mais recorrente, é a crença de pessoas que se acham incapazes de aprender o idioma do país para o qual emigrou ou de que a língua é vista como extremamente difícil. Muitas vezes, essa inflexibilidade produz um “bloqueio” na maneira com que a pessoa vai encarar a atividade de aprender, deixando de ver o aprendizado como algo prazeroso, e passando a vê-lo como algum tipo de obrigação. O problema desse bloqueio (apego à crença de incapacidade > inflexibilidade psicológica) é que ele vai perturbar e muitas vezes impedir o aprendizado. Por exemplo, na situação de encarar/entender o aprendizado como algo natural e cotidiano (sem bloqueio), é muito mais provável que ela venha a sentir satisfação, se sinta competente, e aprenda de maneira leve, como parte de sua rotina; no outro caso, ao entender aprender um idioma como obrigação, algo além do possível (com bloqueio) a pessoa vai estar constantemente experimentando estados de estresse, apreensão, dúvida, receio ou mesmo como um desafio intransponível, insuperável. Aqui, conseguir variar o próprio comportamento em relação ao aprendizado, entender como se constitui e por que existe esse bloqueio; e testar diferentes técnicas, diferentes métodos, tendo consistência, etc, eventualmente poderia levar a pessoa a ver resultados e se sentir competente, ao invés de ser limitada por sua crença da incapacidade de aprender (bloqueio).





A inflexibilidade psicológica além de afetar pessoas que enfrentam algum quadro psiquiátrico, também pode afetar pessoas que mudam de contexto, desde o cidadão que muda de emprego, que muda de cidade, de estado e que tem dificuldades significativas de se adaptar. Em cada uma dessas situações, há mudanças importantes em particularidades do contexto e nas demandas desses ambientes por comportamentos mais adaptativos. Assim, uma mudança de país implica em uma variedade muito maior de modificações no contexto do indivíduo, desde a língua, até as regras explícitas e implícitas do grupo, nas maneiras de interagir e se relacionar que multiplicam a necessidade de flexibilizar/variar o próprio comportamento para se adaptar às circunstâncias.


Portanto, a necessidade de adaptação ao contexto faz com que a capacidade da pessoa de identificar as dificuldades enfrentadas, as fontes que produzem sofrimento/problemas em sua adaptação e maneiras de se tornar menos rígida psicologicamente sejam de extrema importância.






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