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Foto do escritorJulio Cézar Fernandes

Cuspir fogo, virar o bicho, nervos a flor da pele, arrancar os cabelos... Afinal, o que é a raiva?

Estar perto de uma pessoa enfurecida costuma ser uma tarefa bem desafiante, muitas vezes porque deixa de ser previsível o que essa pessoa é capaz de fazer. E de fato, quando somos consumidos por essa emoção que é raiva fica realmente mais difícil de manter um controle racional sobre nossas ações, pois nossa conduta passa a ser mais instintiva e menos racional. E por que isso ocorre?


Na nossa história evolutiva desenvolvemos uma maneira muito eficiente de ter indicações/respostas do ambiente sobre nosso próprio comportamento e se ele está sendo efetivo. E o que são essas indicações? Essas indicações são nossas emoções. Nós seres humanos interagimos com nosso ambiente, e dependendo da maneira com que essa interação ocorre diferentes emoções surgirão. Se eu sofro críticas muito duras de diferentes pessoas relevantes para mim posso me sentir frustrado, triste, desesperançoso. Se recebo alguma coisa agradável de alguém importante posso ficar feliz, alegre; se de repente algum barulho alto ocorre é bem provável que eu tome um susto e fique com medo imediatamente após o barulho. Se eu como algo que tem sabor ruim ou um cheiro desagradável sinto nojo, e assim por diante. As emoções de modo geral são resultados fisiológicos (reações do organismo) da interação com nosso ambiente. Ou seja, emoções podem ser entendidas como respostas transitórias a um estimulo especifico no ambiente. Então quando a gente fala de emoções a gente está falando de respostas/comportamentos rápidos que apresentamos diante de diferentes estimulações. A raiva como uma emoção é o resultado de situações que possam por em risco a vida do individuo, que o coloquem diante da iminência da perda de algo, de situações injustas, de violações morais, criticas, frustração.



Assim como na musica uma nota não tem sentido estando isolada fora de uma melodia, muito menos as emoções fazem sentido sem estar inseridas em um contexto. Portanto para entender as emoções precisamos compreender em que situações elas surgem. No caso da raiva, precisamos compreender que fatores frequentemente favorecem seu surgimento.


A raiva, assim como as outras emoções, tem a função de favorecer nossa sobrevivência. Ela nos impulsiona, nos dá energia para reagir em uma situação. Ela é uma das opções entre lutar ou fugir, e é para enfrentar a situação e garantir a sobrevivência do indivíduo que ela existe. Não a toa ela é rapidamente desencadeada enquanto que para ela passar leva mais tempo.


A raiva tem esse aspecto positivo de preparar, dar energia ao individuo para reagir, deixa-lo pronto para uma reação. No entanto, como já se sabe, todo comportamento em excesso causa algum prejuízo, e assim é para o caso de pessoas que sentem raiva de forma intensa constantemente. Isso ocorre porque a emoção raiva e os pensamentos estão bastante ligados, e essa ligação produz mudanças neurobiológicas no organismo. Diferentes hormônios e neurotransmissores são liberados em maior ou menor quantidade em diferentes áres do cérebro, o coração bate mais rápido, a respiração fica mais intensa, a pressão arterial sobe. Esse estado de raiva, em que o corpo funciona de modo alterado com maior frequência, prejudica nossa saúde gradualmente.


Por fim, eu gostaria de adicionar que, não é porque a emoção raiva tem seus aspectos negativos que ela deve deixar de ser sentida, que ela deve ser negada. Digo isso pois quando negamos nossas emoções e fazemos de tudo para suprimí-las, problemas iminentes que podem estar sendo sinalizados pelas emoções acabam se tornando urgentes. Afirmar a necessidade de sentir as nossas emoções não é de forma alguma dizer que devemos expressar a raiva da forma que ela é sentida. Muito pelo contrário. Entre sentir a raiva e expressá-la existe um espaço onde conseguimos ter um controle que varia de acordo com a intensidade da emoção. De todo modo, é justamente sentindo nossas emoções que passamos a entender melhor que situações favorecem com que elas ocorram e como e por quê essas situações nos afetam da forma que o fazem. Uma maior compreensão de tudo isso que foi dito é algo que dentro de uma psicoterapia poderá ser melhor desenvolvida, sobretudo levantando as maneiras adequadas de lidar com esse sentimento de tal modo que quem o sente e as pessoas ao redor não sofram.


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