Eu particularmente destacaria dois aspectos centrais da situação do refugiado comparando-a com a condição de migrante. Um deles é o poder de escolha reduzido; e o outro é o probabilidade maior de um processo de luto e adaptação mais complicados.
Todo refugiado é um migrante, mas nem todo migrante é refugiado. Ambos têm suas razões para deixar seus países, e essas razões que os levam a decidir deixar seus países podem ser muito diferentes. A decisão por sair de um país pode envolver uma série de fatores como motivadores, de modo que a pessoa na condição de migrante tem uma quantidade maior de opções de escolha de onde ela quer ir e porque. Já a pessoa na condição de refugiada não tem a mesma quantidade de opções, e muitas vezes, sua única opção para que ela consiga sobreviver é migrar.
A organização das nações unidas (ONU) faz uma diferenciação entre migrantes e refugiados:
“Refugiados são pessoas que estão fora de seu país de origem por motivos de temida perseguição, conflito, violência generalizada ou outras circunstâncias que tenham perturbado seriamente a ordem pública e, como resultado, requeiram proteção internacional.”
“Um Migrante internacional é alguém que muda de país de residência habitual, independentemente do motivo da migração ou do status legal. Geralmente, distingue-se entre migração de curta duração ou temporária, abrangendo movimentos com duração entre três e 12 meses, e migração de longa duração ou permanente, referente a uma mudança de país de residência com duração de um ano ou mais.”
O refugiado em outras palavras, é um imigrante involuntário. O qual é forçado a romper o vínculo com o local que fornecia a ele diversos recursos básicos como segurança, conforto, alimento, esperança, descanso, entre outros. Os riscos para permanecer no local onde vive se tornam tão altos que tal lugar se torna inabitável.. Como visto, esse tipo de condição pode ser resultado de catástrofes naturais, conflitos políticos, e como exemplo mais atuais, os conflitos políticos e fome na Venezuela, e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Fonte: unhcr.org
A guerra não fere somente aqueles que estão lutando na linha de frente; ela violenta também aqueles que são obrigados a abandonar seu lar, a cortar forçadamente as raízes com seu lugar de origem. Essa dor é imensa porque além da violência e o medo crescente jamais imaginados aos quais estão expostos, essas pessoas não passam por um processo gradual de enfraquecimento dessas raízes com sua terra, de modo que ao serem arrancadas, forçadas a se mover, acabam se deparando com condições completamente novas, incertas e intensamente dolorosas. Aqui a pessoa se depara não com uma ou com duas perdas, mas com uma infinidade delas, sobretudo a perda de pontos de referência sobre sua identidade, sobre seus valores, princípios, aspirações e projetos de vida. O refugiado não é somente um imigrante, é muitas vezes alguém profundamente ferido e que não tem garantias de que conseguirá ter suporte, segurança, esperança no lugar onde chega. A partir de uma perspectiva um pouco diferente, poderíamos entender o refugiado com alguém que pode passar tanto pela experiência do luto normal como também do luto complicado, este último que pode perdurar por tempo indeterminado e prejudica de maneira profunda sua qualidade de vida. A situação é grave quando percebemos que só na guerra entre Rússia e Ucrânia, ao menos 4,059,105 já abandonaram a Ucrânia desde fevereiro de 2022, portanto, são milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade social e psíquica que precisam de apoio humanitário.
Sabendo disso, convido vocês a contribuírem com a ACNUR que é uma agência da ONU com a função de fornecer proteção e soluções duradouras para os refugiados ao redor do mundo: <https://www.acnur.org/portugues/emergencias/ucrania>
Referências:
https://refugeesmigrants.un.org/definitions
Julio Cézar Fernandes de Matos - CRP 06/149257
Psicólogo analista do comportamento pela UEL; especializando em Neurociências pela mesma universidade.
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